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Pesquisa

Manejo Químico

Como controlar o Azevém no Trigo?

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

A Azevém infesta a cultura do Trigo desde o início do seu cultivo. Porém, nos últimos anos sua ocorrência e densidade aumentou, devido ao seu uso como pastagem ou cobertura do solo; a falta de rotação de culturas; e, principalmente pela presença de populações resistentes aos herbicidas inibidores da EPSPs, ALS e ACCase (Figura 1).

Desde a identificação do primeiro biótipo resistente ao glifosato, em 2003, o controle dessa espécie na dessecação pré-semeadura das culturas de Soja, Milho e Trigo tem sido dificultada. Dificuldade essa que aumentou com a banimento do herbicida Paraquate.


Figura 1 – Evolução nos relatos de resistência de Azevém aos herbicidas.

Os danos causados pelo Azevém impactam negativamente no rendimento de grãos do Trigo. Populações de Azevém entre 130 e 750 plantas m-2 até a maturação do trigo, reduziram o rendimento de grãos em cultivar de porte alto entre 4 e 22% e no de porte baixo entre 18 e 56% (FLECK, 1980).

Os efeitos negativos da matocompetição de Azevém no Trigo começam bem cedo, antes mesmo de se iniciar a competição por água e nutrientes. Estudos mostram que a presença da planta competidora desencadeia alterações morfológicas diferenciadas sobre a cultura de interesse (Lamego et al., 2015). A qualidade da luz que a planta recebe logo no início do seu desenvolvimento altera a distribuição de 2003 2010 2016 2017 EPSPs ACCase ACCase ALS EPSPs ALS EPSPs ALS fotossintatos e, em consequência modifica o seu crescimento. No trabalho de Lamego e colaboradores (2015) as plantas de Trigo e Azevém foram capazes de perceber a presença das plantas vizinhas competidoras em estádios iniciais de desenvolvimento, alterando as características morfológicas, como o aumento da estatura de planta em detrimento do comprimento radicular.

Esses efeitos negativos indicam a necessidade de adoção de estratégias que reduzam a infestação do Azevém na área ou que se faça o controle bem cedo, em pré- emergência ou nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, evitando assim a matocompetição inicial.

A infestação de Azevém pode ser mais facilmente manejada ou mesmo reduzida quando for adotado um sistema de rotação de culturas na lavoura. Isso diversifica o ambiente agrícola e favorece o manejo das plantas daninhas. Com a rotação de culturas ocorrem espécies de diferentes ciclos, nas quais podem ser utilizados vários tipos de manejo, como épocas de semeadura, práticas culturais e até herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Em áreas com alta infestação e banco de sementes elevado de Azevém, que apresentam características morfológicas e biológicas semelhantes à do Trigo, a implantação de dicotiledôneas como a ervilhaca (Vicia sativa) ou o nabo forrageiro (Raphanus sativus var. oleiferus), possibilita a utilização de herbicidas seletivos pós-emergentes para o controle das espécies gramíneas.

A rotação de culturas pode contribuir na redução da infestação de Azevém de duas formas principais: as culturas de cobertura geralmente ocupam de forma mais uniforme o solo do que o Trigo, e não permitem o desenvolvimento vigoroso das plantas daninhas, reduzindo seu vigor e a produção de sementes; além disso, quando as plantas de cobertura de inverno são dessecadas ou manejadas para a implantação de cultivos de verão, pode-se realizar essa operação antes da formação de sementes do Azevém, diminuindo o potencial de infestação dessas plantas daninhas. Sementes de Azevém tem vida relativamente curta no solo (2 a 3 anos), de modo que ao se evitar a formação de sementes por esse período, reduz-se significativamente a população dessa espécie (Figura 2).


Figura 2 – Viabilidade de sementes de Azevém enterrado ao solo (Galvan, 2013)


Medidas de manejo que favorecem o desenvolvimento sadio e bastante vigoroso do Trigo farão com que as infestações de plantas daninhas sejam reduzidas. Essas reduções ocorrem na própria cultura e nas próximas a serem implantadas. Por exemplo, se houver primaveras chuvosas e quentes e as técnicas de manejo forem inadequadas, o Trigo poderá produzir quantidade relativamente pequena de biomassa e algumas plantas daninhas de verão poderão germinar precocemente (setembro, por exemplo), estando bem desenvolvidas por ocasião da implantação das culturas de verão. Isso demandará doses mais elevadas de herbicidas para o seu controle. Quando o clima for favorável e o manejo for apropriado, o Trigo produzirá quantidade maior de biomassa e as plantas daninhas terão sua germinação atrasada, ocorrendo redução na quantidade necessária de herbicidas para o seu controle.

Os herbicidas constituem-se no método mais utilizado para o controle de plantas daninhas em cereais. As estratégias de controle podem ser adotadas mais rapidamente e eficientemente quando se usam herbicidas, comparado ao uso de somente medidas mecânicas. A eficiência dos herbicidas tem levado, muitas vezes, a uma grande dependência desses compostos químicos, com a exclusão de outros métodos. O controle químico deve ser visto como uma ferramenta adicional, e não como o único método para diminuir os prejuízos com plantas daninhas. Os herbicidas devem ser utilizados com critérios rígidos, considerando seus custos, eficiência e segurança ao ambiente e ao homem, devendo ser considerados como parte de um programa integrado de controle de plantas daninhas.

Poucos herbicidas são disponíveis para o manejo (dessecação) de Azevém antecedendo a semeadura do trigo. Os herbicidas que podem ser utilizados são o diquate; glifosato e glufosinato de amônio. A eficiência de controle com glifosato dependerá da porcentagem da população resistente ao mesmo. No caso do glufosinato o controle dependerá do estádio das plantas de Azevém, sendo o controle mais efetivo em plantas com duas a três folhas e em doses de 400 a 600 g i.a. ha-1 . Já, o controle com o herbicida Diquate dependerá da associação com herbicidas graminicidas.

O uso de herbicidas inibidores da ACCase é opção para o controle de Azevém na pré-semeadura do Trigo. Tanto os herbicidas do grupo das ciclohexanodionas (Dim) ou ariloxifenoxipropionatos (Fop) são indicados para o controle, porém alguns cuidados devem ser tomados:

- Observar o intervalo entre a aplicação e a semeadura do Trigo. No caso, 7 a 10 dias para os Dim e de 14 a 21 dias para os Fop;

- Evitar a associação com herbicidas auxinicos, principalmente 2,4-D. A associação é antagônica diminuindo a ação de controle proporcionada pelo graminicida;

- Verificar se nos anos anteriores houve falhas no controle de Azevém com om uso de graminicidas. Essas falhas podem ser indicativos da presença de biótipos resistentes.

Ao de adotar estratégias químicas de controle de plantas daninhas deve-se visar também a reserva de sementes existentes no solo. Neste sentido, o uso de herbicidas que diminuam o fluxo de emergência das plantas daninhas pode ser uma opção. Atualmente, os herbicidas registrados para uso em pré-emergência do Trigo são o Pendimetalina (inibidor da formação de microtúbulos) e Piroxasulfona (inibidor de ácidos graxos de cadeia muito longa). A eficiência dos herbicidas pré-emergentes no controle de Azevém pode ser observada na Figura 3.


Figura 3 - Porcentagem de controle de Azevém com herbicidas aplicados na pré- emergência do Trigo. *Médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5%. (Fonte: Rizzardi, 2020)

Na pós-emergência, os herbicidas registrados para o controle de Azevém são o clodinafope (inibidor da ACCase) e iodosulfuron, piroxulam e imazamoxi (inibidores da ALS). O imazamoxi é indicado somente para uso em cultivares de Trigo tolerantes CL (ClearField® ). Esses herbicidas, usados em pós-emergência, tem a sua eficácia dependente do estádio de desenvolvimento da planta daninha, sendo os melhores resultados obtidos quando aplicado em plantas jovens, com 2 a 4 folhas.

O aumento dos casos de resistência, principalmente aos herbicidas ALS, restringem as alternativas de controle do Azevém. Para mitigar o problema e frear a evolução dessa resistência é necessário inserir outros mecanismos de ação no sistema, como o uso de herbicidas pré-emergentes isolados ou complementados com o uso dos herbicidas pós-emergentes.

Referências Bibliográficas:

Fleck, 1980. Competição de Azevém (Lolium multiflorum L.) com duas cultivares de Trigo. Planta Daninha, v.3, n.2, 1980.

Galvan, J. Banco de sementes e fluxo gênico de Azevém sensível e resistente ao herbicida glifosato. Tese... PPGagro UPF. 2013. 201p.

Lamego, F.; Reinehr, M.; Cutti, L. et al. Alterações morfológicas de plântulas de Trigo, Azevém e Nabo quando em competição nos estádios iniciais de crescimento. Planta Daninha, v.33, n.1, 2015.

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