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Pesquisa

Resistência de Plantas Daninhas aos Herbicidas

Manejo da resistência de plantas daninhas aos herbicidas

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

As plantas daninhas contribuem negativamente com a produção agrícola, e representam um dos problemas econômicos mais importantes para os produtores de culturas como a soja e milho. No caso destas culturas, a presença de elevadas infestações pode acarretar perdas praticamente totais. As plantas daninhas reduzem o rendimento devido aos efeitos diretos e indiretos que exercem sobre o crescimento das culturas. Os efeitos diretos devem-se, especialmente, à competição que exercem por recursos limitados do meio, enquanto os efeitos indiretos incluem, principalmente, dificuldades de colheita e contaminação dos grãos por sementes e outros materiais provenientes das plantas daninhas. Indiscutivelmente, os efeitos das plantas daninhas sobre a cultura da soja estão entre as maiores causas de redução de produtividade.

Os herbicidas constituem-se no método mais utilizado para o controle de plantas daninhas. As estratégias de controle podem ser adotadas mais rapidamente e eficientemente quando se usam herbicidas, comparado ao uso de somente medidas mecânicas. O controle químico deve ser visto como ferramenta adicional, e não como o único método para diminuir os prejuízos com plantas daninhas. Os herbicidas devem ser utilizados com critérios rígidos, considerando seus custos, eficiência e segurança ao ambiente e ao homem, devendo ser considerados como parte de um programa integrado de controle de plantas daninhas. 

A disponibilidade de cultivares de soja tolerante ao herbicida glifosato tornou mais fácil o controle de plantas daninhas. Além do custo mais baixo, essa opção de controle permitiu maior flexibilidade e facilidade na eliminação das plantas daninhas, onde o estádio de desenvolvimento da mesma passou a ser menos importante do que o seu possível impacto no rendimento de grãos. Porém, essas vantagens não foram utilizadas de maneira correta e cuidadosa o que causou perdas de rendimento da soja, em função de controles realizados muito tardiamente após a emergência da cultura e a seleção de espécies de plantas daninhas tolerantes ou resistentes ao herbicida.

No caso da adoção da soja “transgênica”, alguns aspectos sobre a dinâmica de populações das plantas daninhas e a possibilidade da seleção de espécies tolerantes e resistentes ao glifosato não foram adequadamente previstas. A escolha do manejo e os herbicidas utilizados em uma área provocam mudanças no tipo e proporções de espécies que compõem a população do local. Isso se explica pelo fato dos herbicidas não controlarem igualmente as diferentes espécies existentes na área, com isso algumas dessas acabam sendo beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência na área podem se multiplicar e se tornar grave problema para o produtor. Dessa forma, o uso contínuo e repetido e uma mesmo herbicida ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação tornam a seleção de espécies inevitável. 

O herbicida é uma substância química capaz de selecionar populações de plantas. Como tal, o seu uso repetido na mesma área acarretará a seleção de espécies de plantas daninhas tanto tolerantes quanto resistentes ao herbicida. No caso da cultura da soja no Brasil, principalmente no Sul do Brasil, o uso de glifosato a mais de 25 anos na cultura, fez com que fossem selecionadas espécies que sempre foram tolerantes, ou de difícil controle, como poaia (Richardia brasiliensis); corda-de-viola (Ipomoea sp.); trapoeraba (Commelina sp.); capim Rabo-de-Burro (Andropogum spp.), entre outras. O aumento da dose do herbicida ou a aplicação em estádios iniciais de desenvolvimento da planta daninha melhora o controle, para algumas dessas espécies. Porém, na maioria dos casos é necessária associação de herbicidas para se conseguir controle eficaz.

A resistência de plantas daninhas a herbicidas é a capacidade natural e herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população de plantas daninhas, de sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de um herbicida, que seria letal a uma população suscetível da mesma espécie. O potencial de desenvolvimento de casos de resistência acentua-se com o uso prolongado de um mesmo herbicida, ou com o uso continuado de herbicidas que apresentem o mesmo mecanismo de ação nas plantas. Isso é verdadeiro para todo e qualquer herbicida, embora a velocidade no aparecimento dos casos de resistência varie entre os mecanismos.

Os casos de resistência de plantas daninhas na cultura da soja, até o ano de 2003, estavam restritos aos herbicidas inibidores da enzima ALS (acetolactato sintase) e da enzima ACCase (acetil CoA carboxilase). No ano de 2004, foram relatados casos de resistência a herbicidas inibidores de Protox, no estado do Paraná.
 
A partir da identificação do primeiro caso de resistência de plantas daninhas aos herbicidas, ocorrida no Brasil em 1993, observou-se uma significativa evolução nos casos de resistência, associada a diferentes mecanismos de ação. Porém, hoje chama mais atenção aos casos de resistência ao glifosato, pois ser o herbicida mais utilizado para o controle de plantas daninhas na cultura da soja, além da evolução dos casos de resistência múltipla.

Como salientado anteriormente, a resistência é um fenômeno natural que, vai se manifestar sempre que for utilizado o mesmo herbicida, ou herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, repetida e demasiadamente, aumentando assim a pressão de seleção. Ou seja, a própria planta já tem esses genes que, simplesmente se manifestam devido à pressão de seleção causada pelo herbicida.

Atualmente são despendidos esforços na tentativa de se buscar alternativas para o controle dessas espécies resistentes, mas acima de tudo é imperioso que se busque alternativas de manejo que, aliadas ao controle, possam atrasar a seleção e proliferação de novas espécies de plantas daninhas resistentes ao glifosato e, também a outros herbicidas. Entre as possibilidades se encontram estratégias para se diminuir a pressão de seleção desses biótipos como: reduzir a infestação das plantas daninhas; adotar um eficiente sistema de rotação de culturas; integrar e alternar métodos de controle, como o preventivo e o cultural associado ao químico; alternar ou associar herbicidas com mecanismos de ação diferentes e usar herbicidas com diferentes rotas de metabolização. 

    Algumas medidas preventivas indicadas para minimizar o desenvolvimento de resistência de plantas daninhas aos herbicidas são: 


Entre as estratégias para diminuir a infestação das plantas daninhas encontra-se a redução na sua capacidade de produção de sementes ou mesmo na diminuição da sua disseminação. No geral, as plantas daninhas apresentam prolífica produção de sementes, mas com número médio de propágulos bastante variável de uma espécie para outra, os quais podem chegar a mais de 200 mil propágulos por planta como é o caso de espécies do gênero Conyza spp. 

Embora as sementes das plantas daninhas possam disseminar-se nas lavouras de diferentes formas, primariamente elas são introduzidas a partir da dispersão de plantas existentes na própria área, mas muito da dispersão é resultado da falta de cuidados do produtor, como: uso de sementes da cultura com presença de impurezas e sementes de plantas daninhas; falta de controle nas áreas que circundam a lavoura ou mesmo falta de limpeza nos equipamentos e máquinas utilizadas nas práticas agrícolas ou na colheita. Todas estas práticas se não forem bem utilizadas auxiliam na disseminação das sementes das plantas daninhas, contribuindo assim com futuras infestações.

Em muitas situações plantas daninhas não controladas no interior das culturas, ou mesmo aquelas que surgem no intervalo entre duas culturas podem aumentar sensivelmente o número de sementes existentes na área, aumentando assim o potencial de interferência e intensidade das perdas no rendimento das culturas.

Assim, uma estratégia importante para se diminuir a infestação de sementes é o manejo na entressafra. De maneira geral, o agricultor preocupa-se no controle das plantas daninhas dentro do ciclo de desenvolvimento das culturas, onde após a colheita das mesmas deixa-se a área com presença de novas plantas até o momento em que se vai semear uma nova cultura. Atualmente, o uso de cultivares com ciclo cada vez mais curto faz com que este período seja maior, permitindo assim que as plantas daninhas se desenvolvam e consigam se reproduzir, antes da ocorrência das geadas.

Em virtude das consequências da reprodução das plantas daninhas, especialmente no abastecimento do banco de sementes no solo, deve-se, ao se tomar uma decisão sobre a necessidade de controle, incluir na mesma o impacto da produção de sementes nas decisões de longo prazo para manejo de plantas daninhas. Para isso são necessárias informações sobre a capacidade de produção de sementes pelas plantas daninhas.

As variações na produção de sementes pelas plantas daninhas representam estratégias evolutivas que as capacitam a explorar determinada área.  A magnitude da produção de sementes pelas plantas daninhas pode influenciar negativamente a adoção do manejo integrado de plantas daninhas com base na abordagem de nível de dano econômico. O efeito que um único ano de reduzido controle de plantas daninhas pode exercer sobre o banco de sementes de plantas daninhas é significativo. Os retornos anuais de sementes ao solo demandarão altos níveis de controle nas culturas estabelecidas sequencialmente na área.

Como salientado anteriormente, o emprego de estratégias de manejo das populações residuais de plantas daninhas, após a colheita das culturas é de fundamental importância. Nestes casos, a permanência da área sem uma cobertura vegetal propiciará reinfestação da área com prejuízos no rendimento das culturas sucessoras, ou mesmo maior custo financeiro ao produtor no momento do controle.

Neste aspecto, a cobertura morta funciona como camada isolante entre a atmosfera e o solo, altera as condições de temperatura e umidade do solo, além de liberar compostos aleloquímicos que inibem a germinação das sementes ou o desenvolvimento das plântulas de determinadas espécies. No que diz respeito às plantas daninhas, a cobertura morta modifica a constituição qualitativa e quantitativa do complexo florístico que se desenvolve no terreno, por interferir no processo de quebra de dormência das sementes e pela sua ação alelopática sobre a germinação e o desenvolvimento das plântulas.

A prática da rotação de culturas comumente resulta em menores densidades de plantas daninhas emergidas e em menor produção de sementes do que em situação de monoculturas. A redução na população de plantas daninhas em sistemas de rotação de culturas tem por base o uso de uma sequência apropriada de culturas que originam diversidade nas lavouras e, dessa forma, modificam os padrões da relação cultura-plantas daninhas-herbicidas. Um exemplo disso é a sequência soja-milho, onde o uso de herbicidas como atrazina, em doses adequadas, pode diminuir as populações de Buva resistentes ao glifosato e a outras herbicidas.

De outro modo, as estratégias químicas para impedir a produção de sementes estão associadas com a eliminação das plantas na sua fase inicial de desenvolvimento, seja dentro do ciclo normal das culturas ou no manejo de entressafra, principalmente no período de outubro/inverno. Esta época do ano é aquela em que há menor proteção do solo e por consequência maior possibilidade de novas infestações. 

A infestação de plantas daninhas se caracteriza pela diversidade de espécies ocorrentes, onde é muito rara a presença de uma única espécie numa determinada área. A ocorrência de mais de uma espécie ao mesmo tempo na área aliado ao fato da maior presença de plantas daninhas com maior dificuldade de controle, tanto tolerantes quanto resistentes a determinado herbicida tem levado ao aumento no uso da associação de herbicidas. 

A associação de herbicidas é aliada importantíssima no manejo preventivo da resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Modelos matemáticos indicam que o surgimento do primeiro caso de resistência do azevém ao glifosato poderia ter sido atrasado em cerca de 8 anos se no princípio do controle fosse utilizado glifosato seguido do paraquate.

Quando são utilizados um ou mais compostos em associação podem ocorrer efeitos variados, os quais são classificados como: aditivos, sinérgicos e antagônicos. 
O efeito mais comum é o da aditividade que se caracteriza pela ampliação no espectro de controle das espécies, onde um herbicida controla a espécie A e o outro controla a espécie B. Esse é o caso da associação de atrazina com simazina, por exemplo. 

O efeito antagônico é caracterizado pela associação de mais de um herbicida sendo que há uma diminuição da ação dos herbicidas quando em comparação com a aplicação isolada. Esse efeito traz como consequência a diminuição na ação de controle das plantas daninhas. Exemplos de antagonismo são observados quando da associação de herbicidas graminicidas (inibidores da ACCase) com latifolicidas (inibidores da ALS) ou mesmo com a associação de herbicidas inibidores da fotossíntese (ex: paraquat) com herbicidas translocados pelo floema (ex: glifosato). Entre as causas do antagonismo encontram-se a incompatibilidade química e/ou física das formulações. 

Casos similares de antagonismo ocorrem quando da presença de composições salinas a calda herbicida. Esse tipo de antagonismo é comum quando são adicionados micronutrientes, com presença de manganês, junto ao glifosato.

No caso do efeito sinérgico ocorre a ampliação na ação dos herbicidas, os quais isoladamente propiciam controle intermediário, mas quando associados há aumento no grau de controle. Esse efeito é observado com a associação do glifosato e carfentrazona no controle de corda-de-viola, poaia e trapoeraba.  

Como pode ser visto a associação de herbicidas requer conhecimentos específicos do modo de ação dos herbicidas e suas formulações. No caso do manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, existem alternativas de manejo e associações. No caso do azevém, existem alternativas de herbicidas para o seu controle na cultura de inverno e na pré-semeadura das culturas de verão. No caso do manejo do azevém resistente ao glifosato em pré-semeadura, tanto de culturas de verão quanto de inverno deve-se utilizar a dessecação seqüencial onde cerca de 20 dias antes da semeadura deve-se aplicar glifosato a associado a graminicidas e próximo a semeadura da cultura fazer uma segunda dessecação com paraquate + diuron ou amônio glufosinato de amônio.

No caso da buva, o seu manejo deve ser iniciado no outono/inverno e continuado até o verão. Para a semeadura da soja, naquelas situações em que houve pousio no inverno, pastejo animal ou mesmo que se semeou aveia-preta para a cobertura de inverno, é fundamental o manejo antecipado da área, ou seja, 10 a 20 dias antes da semeadura aplicar glifosato associado a 2,4-D ou Dicamba (30 dias antes da semeadura da soja) e, próximo a semeadura da soja aplicar diquate; glufosinato de amônio; paraquate ou saflufenacil, associado a outro herbicida de efeito residual.

Nas situações de semeadura da soja em área de resteva de trigo, cevada ou mesmo de aveia para grão uma única aplicação de herbicidas é suficiente, porém no caso da buva é fundamental a associação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e que tenham efeito residual sobre a sementeira das plantas daninhas, em especial buva. Como exemplos de herbicidas para soja, com residual para buva tem-se o diclosulam; clorimuron; imazetapir; flumioxazina e sulfentrazona, ou a associação dos mesmos.

 

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