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Opinião

09/03/2020

Por quê sobrou tanta Buva nas lavouras de soja?

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

Sem muito esforço se percebe que as lavouras de soja, em todo o Sul do Brasil, apresentaram, nesta safra, uma elevada infestação das diferentes espécies de Buva, mas com predominância das espécies Conyza bonariensis e Conyza sumatrensis.

Para ambas as espécies existem relatos de populações resistentes aos herbicidas inibidores da EPSPS (glifosato) e aos herbicidas inibidores da ALS (clorimuron; metsulfuron; imazetapir; entre outros). Para a espécie Conyza sumatrensis existem populações com resistência múltipla aos herbicidas inibidores da EPSPS; ALS; Fotossistema I (paraquate); Protox (saflufenacil); Fotossistema II (diuron) e Auxinas (2,4-D). Portanto, como pode ser visto essas espécies com resistência tenderão a sobrar nas áreas e, ao longo do tempo, aumentarem a sua dispersão. É importante salientar que não necessariamente os biótipos de Buva existentes no Paraná são similares geneticamente aos biótipos do Rio Grande do Sul (Schneider, T. et al., 2020).

A questão que surge é se o aumento da infestação de Buva está associado a eventual introdução dos biótipos com resistência múltipla do Paraná ou mesma seleção local de biótipos resistentes, por exemplo, ao paraquate e 2,4-D, ou ainda a outras razões associadas ao manejo. Em minha opinião, as duas últimas causas são as mais prováveis.

A seleção de biótipos resistentes é um processo associado ao uso repetido de herbicidas com mesmo mecanismo de ação. Neste sentido, o uso frequente de paraquate e de 2,4-D pode ter selecionado localmente populações resistentes. Porém, no monitoramente feito por nós, na Universidade de Passo Fundo, os casos observados com essas resistências são extremamente baixos. Porém, como a Buva produz um elevado número de sementes, a sua multiplicação é rápida o que pode acelerar o processo de dispersão.

Apesar de a resistência estar presente nas diversas populações de Buva no sul do Brasil, nesta safra, especificamente as principais causas estão associadas a falhas no manejo, potencializadas pelas condições do ambiente, como o excesso hídrico no início da fase de semeadura e, posteriormente, a escassez de água ocorrida ao longo do ciclo na soja.

O excesso de chuva esteve associado à dificuldade de semeadura da soja, tanto atrasando a época de semeadura, quanto, nas áreas semeadas, afetando a emergência da soja e, por consequência, o estabelecimento de uma população adequada da cultura.

O atraso na semeadura fez com que aquelas áreas que foram manejadas adequadamente quanto à dessecação pré-semeadura tivessem que esperar um tempo demasiado entre o manejo e a semeadura. Quando esta ocorreu um novo fluxo de plantas de Buva já estava em início de estabelecimento, antes mesmo que a soja fosse semeada ou mesmo emergida. Na Figura 1 observa-se a diferença de infestação entre uma soja semeada em outubro em comparação a outra semeada em novembro.

Figura 1 – Infestação de Buva em soja semeada em outubro e semeada em novembro, submetidas ao mesmo manejo de herbicidas na dessecação pré-semeadura. (Foto: Mauro Antônio Rizzardi)

Se não bastasse o atraso na semeadura em relação à dessecação, a emergência da soja foi desuniforme nestas semeaduras do cedo, ficando espaços para o estabelecimento de plantas daninhas, incluindo Buva. Sabe-se que as diferentes espécies de Buva são consideradas como fotoblásticas positivas, ou seja, sua germinação, emergência e estabelecimento ocorrem somente na presença de luz. Assim, falhas na lavoura propiciam maior infestação de espécies como a Buva.

Se não bastassem as dificuldades no estabelecimento da cultura, os longos períodos de escassez de água durante o ciclo, tanto para as cultivares semeadas no inicio do período indicado de semeadura quanto cultivares semeadas mais tarde, afetasse o crescimento e desenvolvimento da cultura. Isso fez com que a soja, em muitas situações, não formasse área folhar suficiente para fechar as entrelinhas e, sombrear o solo. Ou seja, também nessa condição a passagem de luz possibilitou o estabelecimento da Buva.

Outra situação também observada esteve associada falta ou mau estabelecimento das culturas de cobertura, durante o período de inverno. Sabe-se que o fluxo de emergência de Buva se inicia a partir do final de março e se prolonga até meados de novembro, como picos maiores de emergência nos meses de junho a setembro. Sendo assim, o uso ou não de culturas de coberturas no período de inverno faz toda a diferença no estabelecimento da Buva (Figura 2).

Figura 2 – Presença de Buva na ausência ou presença de cobertura vegetal no inverno. (Foto: Mauro Antônio Rizzardi)

Além disso, em muitas situações, a cobertura tem sido estabelecida logo após a colheita da soja ou mesmo em sobressemeadura da soja. Nestes casos, a semeadura pode ter sido realizada em áreas com plantas de Buva em fase de emergência; já emergidas ou mesmo cortadas pela colhedora da soja. Em todas essas situações, a Buva ficará protegida pela cobertura vegetal, vindo a se desenvolver no final de outubro, época de semeadura da soja. Por isso que se recomenda o manejo de Buva pós-colheita da soja, antes do estabelecimento das coberturas de inverno ou mesmo do trigo.

Diante dos relatos pode se atribuir a presença destas elevadas populações de Buva a diversas causas. Cabe agora se analisar caso a caso, para somente após estabelecer as estratégias de manejo. Porém, reforço que as mesmas devem começar logo após a retomada do crescimento dessas plantas de Buva cortadas por ocasião da colheita.

 
Mauro Antônio Rizzardi é Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Passo Fundo , mestre e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo. 

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